Os cosméticos sólidos estão na moda e são um dos formatos mais recentes dos produtos diários de higiene corporal. Do champô ao condicionador, passando pelo sabonete, pasta de dentes e desodorizante, temos um vasto leque de opções que nos permitem fazer escolhas mais amigas do ambiente.
Mas será esta moda assim tão recente?
Talvez não!
O recurso a substâncias e produtos destinados a melhorarem o aspeto da pele e ainda, proporcionarem algum conforto, remontam aos primórdios da civilização, exceção feita ao período da Idade Média, em que assistimos a um verdadeiro retrocesso em matéria de higiene. Falamos principalmente de unguentos (bálsamos) e sabão, ou seja, sólidos e semissólidos, produtos que pelas suas características contêm pouca ou nenhuma água.
Vejamos uma pequena abordagem histórica dos produtos de higiene e cosmética.
Na época neolítica (7000 a 4000 a.C.) os óleos e gorduras eram adicionados a extratos vegetais, com os quais se criavam unguentos para a higiene e também para fins terapêuticos.
Vestígios encontrados durante uma escavação na Babilónia, evidenciam registos da produção de materiais semelhantes ao sabão cerca de 2800 a.C.
Por volta do ano de 23-79 d.C, o historiador romano Plínio, o Velho, deixou registado o método de obtenção do sabão duro e mole.
As primeiras saboarias surgem na Europa no século X (Espanha, França e Itália).
Em Portugal, a primeira fábrica de sabonetes, surge no Porto, em 1887, pela mão de 2 alemães, Ferdinand Claus e George Schweder, dando mais tarde origem à conhecida ACH Brito e Co, Lda.
É já no século XX, que surge a primeira emulsão (creme). Em 1900, o químico Isaac Lifschutz, após décadas de intensa investigação, conseguiu criar o primeiro agente emulsionante (Eucerit) baseado na cera retirada da lã de ovelha (lanolina) e que permitia que o óleo e a água fossem misturados e permanecessem juntos. Esta descoberta está na base do famoso creme Nívea (o da latinha azul).
O desenvolvimento de tensioativos não iónicos, data de 1940. Os tensioativos são alguns dos ingredientes que estão na base da formulação de produtos de cosmética com propriedades de limpeza, como gel de banho, champôs, pasta de dentes.
Os emulsionantes e os tensioativos, são ingredientes imprescindíveis para a obtenção de produtos cosméticos no formato líquido.
Tudo isto para dizer que os produtos de cosmética e higiene em formato líquido são na verdade recentes na história da humanidade, ao contrário do formato sólido ou semissólido que acompanham os primórdios da civilização.
Estaremos então a fazer um retrocesso?
Na minha opinião não! Estamos a fazer uma aprendizagem e uma adaptação à urgente necessidade de ultrapassar questões ambientais e combater a escassez da água potável.
Ao optarmos na nossa rotina diária por produtos cosméticos no formato sólido, estamos a evitar o consumo de cerca de 75% de água na sua produção, uma vez que em média um produto cosmético líquido contém entre 60% a 85% de água. Ao reduzirmos ou eliminarmos a água da sua formulação estamos a contribuir ativamente para a sua poupança.
Claro que as medidas ambientais e o combate à poupança de água, não se limitam à substituição de produtos líquidos por sólidos, há muito mais a fazer, mas pode ser um bom princípio!
Sandra Martins
Ceo & Founder Poção Mágica
Pós-Graduada em Cosmetologia pela FFUL